Publicado em 20/11/16
A Tormenta de Calicute, a operação da PF que levou à prisão Sérgio Cabral
Entenda os termos que batizaram a operação da Polícia Federal deflagrada no Rio de Janeiro contra o ex-governador fluminense Sergio Cabral.
As terras brasileiras foram oficialmente descobertas em 22 de abril de 1500, como resultado da expedição enviada pelo rei português D. Manuel, na qual Pedro Álvares Cabral foi o elegido para dar prosseguimento a empreitada iniciada por Vasco da Gama em 1498. O que muita gente não sabe é que após chegar ao Brasil, a frota cabralina se dividiu, em 2 de maio de 1500, parte seguiu para a Índia e outra voltou para Portugal comandados por Gaspar de Lemos, levando inclusive a célebre carta de Pero Vaz de Caminha, sua carta foi mais cedo e Caminha seguiu com Cabral para a Índia. Pero Vaz nunca retornou a Portugal, morreu em um ataque deferido pelos árabes na feitoria de Calicute. Além da carta foi levado para as terras lusitanas pau-brasil, muitas amostras de plantas diversas, bugigangas indígenas, araras e papagaios. Sorte de quem voltou mais cedo, pois para os demais que seguiram o curso para a índia passaram por maus bocados.
O Paraíso terrestre havia sido deixado para trás e a paz parece que também. Em 12 de maio um cometa foi avistado pelas naus e manteve-se visível por assombrosas 10 noites, para muitos prenunciando o pior. No caminho para a Índia, os portugueses se depararam com uma forte tempestade nas proximidades do cabo da Boa Esperança ao sul do continente africano, que durou em torno de 20 dias!
Segue a descrição de Fernão Lopes de Castanheda, citado por Eduardo Bueno
O mar ficou tão grosso que parecia impossível as naus escaparem de serem comidas, As ondas se levantavam tão altas que parecia que as punham nas nuvens e depois nos abismo, como os vales que abriam. De dia era água cor de chumbo e de noite cor de fogo, e o ruído que fazia o madeirante era medonho e tudo era tão espantoso que o não poder crer quem não viu.
Como resultado a tempestade deixou um rastro de tragédia, levando consigo os navios e tripulantes de Aires da Silva, Simão de Pina, Vasco de Ataíde e ironicamente os de Bartolomeu Dias que anos antes o tinha heroicamente superado esse trecho. As perdas chegaram quase 400 homens.
Os Lusíadas de Camões, em seu canto V, cita o encontro anterior de Vasco da Gama 1498 – com o gigante da mitologia Adamastor que vive na confluência dos oceanos Atlântico e Índico, que profetiza os futuros naufrágios das esquadras cabralina
Aqui espero tomar, se não me engano,
De quem me descobriu suma vingança.
E não se acabará só nisto o dano
De vossa pertinace confiança:
Antes, em vossas naus verei, cada ano,
Se é verdade o que meu juízo alcança,
Naufrágios, perdições de toda sorte,
Que o menor mal de todos seja a morte!
A viagem prosseguiu, passada a Tormenta, os sobreviventes em estado de pânico, agruparam-se em apenas 6 naus que em 13 de setembro finalmente chegaram em Calicute na Costa oeste da Índia. Lembre-se que sua armada tinha como objetivo mostra a força do poder real português, respondendo ao fracasso diplomático que tinha sido o encontro em maio de 1489 com Gama, descrito aqui anteriormente.
Os portos brasileiros por muitos anos seguiram sendo pontos de parada tanto na ida como na volta para os navios portugueses que vinham ou iam para a Ásia. Portos como Salvador, Rio de janeiro eram inundados de panos indianos, sedas e porcelanas da China muitas vezes utilizado para trocas por tabaco, açúcar, madeira e outros.
Por André Mafra
Para saber mais, indico os livros abaixo e os posts:
A Viagem do Descobrimento de Eduardo Bueno, São Paulo
De Vasco a Cabral de Luis Adão da Fonseca, São Paulo
Pedro Álvares Cabral, uma viagem de Luis Adão da Fonseca, Lisboa
A escolha de Cabral
O Descobrimento do Brasil
Conheça D. Manuel, o monarca que exalava pimenta
Chegada de Vasco da Gama em Calicute na Índia