Publicado em 01/04/23

22 de abril de 1500 – O “Descobrimento” do Brasil

Padrão em Homenagem ao navegador Pedro Álvares Cabral

 “…foram vinte e um dias de abril, estando da dita ilha obra de 600 ou 670 léguas, segundo os pilotos diziam, topamos alguns sinais de terra, os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chama botelho[1] e assim outras, a que dão o nome de rabo de asno. E a quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves, a que chama fura-buchos. Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente dum grande monte , mui alto e redondo, e de outras serras mais baixas ao sul dele e de terra chã com grandes arvoredos. Ao qual monte alto o capitão pôs nome o Monte Pascoal, e à terra, a Terra de Vera Cruz.”

trecho da epístola de Pero Vaz Caminha

Homenagem ao grande navegador Pedro Álvares Cabral em sua cidade Natal
Homenagem ao grande navegador Pedro Álvares Cabral em sua cidade Natal

A armada Cabralina sai em nove de março de 1500, rumo a Cabo verde navegando pela costa Africana, passa pelas ilhas Canárias, treze dias depois no dia 22 de março chega a vista da ilha de Cabo Verde para abastecimento de água. No dia 23 de março uma das naus se perde com aproximadamente 150 tripulantes, provavelmente era a nau de Luis Pires ou a nau de Vasco de Ataíde[2]. De lá seguiram em sua nova orientação de abrir para oeste uma curva, curva esta que se abriu muito, propositadamente ou não, mas que em algum momento com diz Pero Vaz de Caminha acima em sua carta a frota se aproximava de uma ilha. Após as Canárias e ao sumiço de umas das naus, a frota entra em uma região de calmarias equatoriais, bem diferente do estado emocional daqueles homens que certamente estava muito longe do calmo. Segue a descrição: “Ali as naus ficavam estáticas. […] por cerca de dez dias, a frota de Cabral arrastou-se a velocidade de um nó (ou 1,9 km por hora). Anos mais tarde, esse mesmo trecho seria o primeiro calvário pelo qual passariam as naus que seguiam a Carreira da Índia. Nos doldrums (palavra inglesa que significa desânimo), onde às vezes os navios chegavam a ficar retidos por quarenta dias, a água acabava e a morte rondava os tripulantes; as velas pendiam, frouxas, no ar escaldante.” [3]

Nessas condições o bravos navegantes eram comumente atingido pelas intensas febres, talvez causadas pela exposição excessiva ao sol, esses percalços eram chamadas vulgarmente de “mal das calmarias.”

O desembarque

A frota de Cabral se aproxima da costa em 22 de Abril de 1500, data oficial do descobrimento, no dia 23 se aproximam da terra e é neste momento que são avistados os primeiros habitantes brasileiros pelos portugueses, Nicolau Coelho é escolhido para desembarcar depois de ancorarem junto a um rio. Os primeiros contatos são estabelecidos.

Museus dos Descobrimentos em Belmonte, Portugal
Museus dos Descobrimentos em Belmonte, Portugal, 2012

A carta de Caminha descreve esses primeiros contatos como pacíficos e tranquilos, trocam-se presentes. Em 24 de abril, se deslocam mais para o norte, recolhem alguns indígenas e os descrevem assim: “A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma coisa cobrir nem mostrar suas vergonhas. E estão acerta disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto”.Com isso percebem que os índios não se encaixam nas antigas descobertas ou parâmetros. Os índios não se pareciam com as descrições ou percepções que se tinha dos nativos do Oriente, também seus costumes não se pareciam com o dos africanos. Eles não temperavam suas comidas, pelo menos não com as especiarias conhecidas da época (cravos, canela, cominho e outras), se utilizavam de diversas ervas e de frutinhas picantes que havia em demasia por aquelas matas. Essas frutinhas, na verdade, eram os capsicums, as pimentas[4] em formato de frutos típicos das Américas que Colombo anos antes havia descoberto e levado para a Europa anos antes, eram encontradas de diferentes cores e tamanhos.

Outro fato curioso dos descobrimentos é que mais do que terras, agora encontravam outros homens. Seres humanos que tinham que se encaixar em algum rótulo, eram eles cristãos, mulçumanos, judeus? Com certeza um conflito para aqueles que levavam a palavra de Deus por meio das Ordens militares católicas. Afinal como Deus havia se esquecido de algumas de suas ovelhas em terras desconhecidas[5]?

Uma utilização interessante das pimentas pelos índios brasileiros era a de montar uma fogueira e queimar muitos pés de pimenta com o vento a favor, essa fumaça tóxica seria levada até o inimigo para desalojá-lo de seu abrigo.Os nativos também não conheciam o açúcar nem o vinho, sua bebida fermentada era a base de mandioca e era chamada de cauim. A grande utilização de inhame, um tubérculo encontrado no Brasil e também de outras sementes, provavelmente outras especiarias são descritos por Caminha em sua epístola. Os indígenas de início não aceitavam os mantimentos que os portugueses lhe ofereciam. Vinho, pão, peixe cozido e até água os índios colocavam a boca e rejeitavam. Nada grave quando sabemos das péssimas condições de higiene dos mantimentos que chegavam das grandes navegações, tenho certeza que um europeu de hoje que provasse aquela água ou vinho certamente teria a mesma reação.

Padrão em Homenagem ao navegador Pedro Álvares Cabral
Padrão em Homenagem ao navegador Pedro Álvares Cabral

Usavam pouquíssimo sal em suas refeições e o mesmo não era utilizado pelos índios para conservar seus alimentos, para tanto usavam um sistema em que a carne era cozinhada levemente sem tostar. O sal foi pouco a pouco sendo introduzido pelos Europeus através de das trocas que sempre foram as formas de se estabelecer um contato mais amigável entre europeus e índios. Os indígenas se interessavam também pelos objetos de ferro que eles não conheciam. Trocavam por exemplo pimentas, algodão, pau Brasil em troca de facas, machados, espelhos, anzóis e etc. Já os portugueses não encontraram os condimentos ou metais preciosos que pensaram encontrar, mas aproveitaram para carregar suas naus de lenha, água fresca. A boa qualidade do palmito juntamente com a grande quantidade de frutos, sementes e tubérculos ingeridos pelos índios foi algo que impressionou bastante os lusos já nesta primeira viagem.

Por André Mafra

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Mafra lake

Andre Mafra

  Estudioso da área de culinária desde 2010, dedica-se a pesquisar e estudar sobre alimentação e especiarias. Realizou viagens aos… Continue lendo.

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