Publicado em 04/02/22
20 de fevereiro de 1555, Hans Staden é libertado pelos índios tamoios e retorna à Europa
Conheça um pouco da história de Hans Staden (1496-1556)
Hans Staden foi um náufrago alemão que fez duas viagens ao Brasil recém-descoberto por Cabral. Veio para o Brasil pela primeira vez em 1548, em sua segunda viagem veio em um navio espanhol que naufragou em 1550 em Santa Catarina.
O navegador trabalhou como atirador em um forte português chamado São Felipe da Bertioga, localizado na ilha de Santo Amaro (Guarujá). Infelizmente, a história do sortudo Hans, pelo jeito, não agrada às autoridades competentes. Os resquícios das muralhas parecem mais um amontado de pedras e me fizeram lembrar das ruínas gregas e romanas que visitei na Europa. Só que estas últimas, mesmo com mais de 2 mil anos, encontram-se em melhores condições do que o forte de Hans, com idade quatro vezes menor.
Após longo período de lealdade aos lusitanos, Hans preparava-se para retornar à Europa e receber os méritos pelos duros serviços prestados à Coroa portuguesa. No entanto, ao sair para caçar, passou de caçador a caçado e foi capturado pelos índios tupinambás. Os relatos assustam: nativos rodopiavam o corpo do alemão e mordiam-se nos braços para mostrar a Hans Staden o que planejavam fazer com ele[1].
Para o azar de Hans, os tupinambás eram aliados dos franceses, por isso conseguiam sabotar a vigília portuguesa e levar para França as riquezas da Terra de Vera Cruz. Então, os lusitanos, que não eram bobos, aliaram-se aos inimigos mortais dos tupinambás – os tupiniquins. Quase uma história da Guerra Fria.
Em sua história, Hans descreve cerca de 8 mil indígenas contra 90 “pobres” cristãos, somados a mais 30 escravos. Quando capturado, foi obrigado a gritar na língua dos nativos: “Estou chegando, sou vossa comida”. Em outro relato, ele conta a abundância de pimentas que encontrou no litoral e sua utilização para desalojar os inimigos das fortificações. Faziam assim: montavam uma grande fogueira e lançavam ao fogo os pés de pimenta. A fumaça picante, quando direcionada de forma certeira ao inimigo, obrigava-o a sair[2].
Hans cita as doenças de homem branco que atingiam os índios na época. Quando uma delas afetou a tribo que o aprisionava, ele espertamente associou o mal a uma vingança perpetrada por seu Deus aos indígenas, que salivavam imaginando um cozido com carne alemã. Após nove meses e meio desesperadores entre os nativos, Hans conseguiu finalmente embarcar em um navio francês. Ele retornou à Europa em 20 de fevereiro de 1555. Em Hesse, na Alemanha, Hans escreveu suas memórias, que alimentaram o imaginário europeu e o tornaram famoso em todo o continente.
O relato do náufrago contribuiu para a imagem preconceituosa de que o Brasil era habitado por um povo primitivo, sem alma, canibal. Muitos anos depois, suas aventuras influenciaram grandes nomes da arte brasileira, como Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, além do Movimento Antropofágico da década de 1920, no qual a cultura estrangeira europeia era engolida para se reinventar à moda brasileira.
[1] Do livro Hans Standen – duas viagens ao Brasil, pág. 63.
[2] Do livro Hans Staden – duas viagens ao Brasil, pág. 160.
por André Mafra