Publicado em 13/02/23
Tem gente que não bebe e está vivendo – coluna Vida Simples
Você bebe para socializar? Somos fruto do meio e nossa sociedade hipervaloriza o consumo de álcool. Conheça o movimento “sober curious” que busca desafiar esse paradigma.
Faz muito anos que parei de brincar de ingerir álcool. O fato é que eu nunca soube beber e, se tivesse mantido a tendência da juventude, não sei exatamente dizer como a brincadeira iria terminar. Penso que não muito bem. Minha história não é a de todos. Admiro os comedidos, mas minhas andanças por este planeta, após conhecer tantas culturas diferentes, com hábitos particulares, comportamentos e tradições culinárias distintas, só reforçou uma certeza: somos fruto do meio e nossa sociedade hipervaloriza o consumo de álcool, algo que transcende a simples ingestão e tornou-se uma maneira de viabilização social, o que é um erro, na minha visão.
Conhecer e circular por meios nos quais o álcool não está inserido foi o meu caminho trilhado. Como professor de uma filosofia de autoconhecimento, sempre tive preocupação com meus hábitos e em me aprimorar nas escolhas do que coloco dentro do corpo, sem paranoias. Buscar clareza e lucidez, desde então, tem sido fonte de minhas pesquisas.
Não tente convencer ninguém de nada
Se existe uma coisa que eu acho chata é alguém querendo me convencer de que a sua opção é a melhor para mim. Que situação desagradável. Minha intenção com este texto é relatar uma tendência que está em franco crescimento e que parece ter vindo para ficar e se expandir. Longe de mim ditar o que um marmanjo ou marmanja como você deve fazer com sua vida ou saúde, ou ditar o que se pode ou não comer e beber.
O que ocorre é uma grande tendência de crescimento dos adeptos da tribo dos abstêmios de plantão, aqueles que largaram de vez a bebida ou optaram por testar uma vida social estando mais sóbrio. Como tudo o que entra em voga o mercado abraça – e parece que, desta vez, o abraço é forte – somos levados a crer que a cultura de menos álcool vai crescer.
O movimento já tem nome: sober curious, ou seja, uma dinâmica de perceber a vida e o lazer de maneira mais sóbria, mas não menos divertida ou interativa. Indicação de leitura:
Já no aspecto comunitário, sinto que há uma carência de opções de convivência e sociabilidade, que não estejam atreladas à desculpa do álcool como veículo facilitador de interação.
Faz anos que promovo e participo de eventos que reúnem centenas de participantes, como as edições do DeRose Festival de Portugal, São Paulo e Florianópolis. Eles são a prova de que é possível criar condições para a moçada descontrair e curtir, sem que haja um ambiente careta, dogmático ou repressivo. Atualmente, o que era nicho específico está virando tendência: são muitos e muitos eventos no mundo todo, para quem busca diversão em um universo sober curious.
Sendo paulistano, sempre quis fugir da ditadura da opção única de entretenimento em minha cidade natal. Você pode achar que estou exagerando, mas o fato é que o ato de confraternizar foi reduzido às múltiplas opções apenas de bares que, até alguns anos atrás, eram tomados pela fumaça dos tabagistas.
Nada contra bares, mas tê-los como local principal para relaxar ou encontrar e conhecer pessoas sempre me incomodou. No fim, o problema não é o bar em si, mas a necessidade de ter o álcool como combustível da sociabilização. Sem um copo na mão, você não é nada.
Será que o melhor seria aumentar a rigidez das leis ou até mesmo banir bares e o consumo de álcool? Claro que não. O que precisamos é arejar o tema. Será que não podemos ter uma vida social, o ato do flerte e até o desfrute da nossa sexualidade estando sóbrios, mais lúcidos? Quanta gente transa com alguém e no dia seguinte nem se recorda… Uma lástima. O que falta é alternativa.
Que tal buscar em sua cidade, opções de locais que oferecem coquetéis diferentes? Afinal, eles são ótimos para aqueles dias em que você não deseja beber ou não pode por algum motivo médico ou mesmo por estar conduzindo o carro da galera, não é mesmo? Seguem alguns lugares que garimpei para você. Mande-me as suas indicações.
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