Publicado em 20/11/16

Conheça D. Manuel I, o monarca que exalava pimenta

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Manuel I reinou durante 26 anos, de 1495 até 1521. Seu reinado foi muito fértil e ele ficou conhecido como o Afortunado e também o Venturoso. Seu reinado dominava uma grande costa que se estendia da Europa até a China com diversos pontos comerciais estratégicos sob o seu controle como Ormuz no Golfo Pérsico, Cochin na Índia e Málaca na Malásia.  Foi durante o seu reinado que Vasco Gama chega às Índias pela rota marítima via África e que o Brasil é descoberto 1500.

Manuel assumiu a expansão portuguesa como instrumento de expansão cristã no mundo infiel, o outro mundo ou mundo oriental. De tantas especiarias que trouxe para Europa ficou conhecido pelos cronistas como o “Rei que cheirava à pimenta”. Já o rei da França François I, aquele mesmo que havia questionado o Tratado de Tordesilhas, chamava o português pejorativamente, mas no fundo com uma grande inveja de le roi épicier[1] que pode significar o rei, dono de armazém ou o vendedor de especiarias. Fato que tenho que não incomodava D. Manuel que estava certamente bem feliz com o lucro da sua “mercearia”.

Seu reinado marcou a criação de um Império Português no Oriente e também o auge das incursões em terras marroquinas, sempre muito bem defendidas pelos mouros. Elaine Sanceau sabiamente comenta que para a geração deles (homens de D. Manuel) a palavra impossível quase perdera o significado.

O império de D. Manuel tornou-se um complexo tri-oceânico tão forte que durantes muito anos, mesmo após o declínio do domínio português, holandeses e ingleses viram–se obrigados a aprender o idioma de Camões para facilitar a comunicação e comércio na rota do cabo. Era o idioma do comércio na África Ocidental, costa ocidental da Índia, Sri Lanka Brasil, e ilhas do Índico, trechos da China e Japão. Ainda hoje o português possui um grande número de falantes[2] por conta do período das grandes navegações.

Detalhe arquitetônico Torre de Belém, Lisboa, Portugal, 2011 Portugal
Detalhe arquitetônico Torre de Belém, Lisboa, Portugal, 2011

O estilo arquitetônico da época ganhou seu nome e foi em 1519, pelas mãos do Mestre Francisco Arruda que um dos ícones da arquitetura manuelina é terminada: a Torre de Belém – responsável pela defesa da cidade e a segurança do comércio dos produtos e especiarias que vinham do Oriente tão cobiçadas por piratas e corsários[3].  Hoje é patrimônio Mundial da UNESCO e motivo de orgulho nacional.

O Mosteiro dos Jerónimos, para mim o mais belo exemplo, com seu fabuloso claustro e a Torre de Belém são registros bastante preservados do estilo Manuelino[4]. Sua construção foi uma retribuição a Deus pelo êxito da viagem de Vasco da Gama. A Torre com sua beleza é fonte de orgulho para os habitantes de Lisboa e local obrigatória para os turistas de plantão.  Sua decoração possui repetidos elementos que nos mostram o caráter militar do reinado de Manuel juntamente com elementos de características religiosas com a Cruz de Cristo que desvendam as intenções do Venturoso.

Claustro do Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa, Portugal, 2012
Claustro do Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa, Portugal, 2012

O comercio de especiarias e de açúcar na Índia no período Manuelino rendia a coroa 50% de suas receitas na época! Afonso de Albuquerque em uma carta em 1512 calculava que o lucro chegava a 80 milhões de euros ao preço atual do ouro. Somando o comércio além mar juntamente com os metais preciosos, pau-brasil, escravos representavam juntos 68% das entradas, ou seja, a economia portuguesa estava completamente dependente do projeto expansionista. Isso era bom por um lado, mas pode ter sido o elemento que culminou no fim. Todas essas receitas não chegavam tão facilmente até o extremo oeste europeu, esse império todo era caro de se manter e as receitas precisavam aumentar para cobrir as despesas de guerra resultado da competição feroz do islã no comércio do Oriente.

Ao fim do reinado de D. Manuel, um importante fato sinalizava que o poder do comércio das especiarias, estava agora nas mãos lusitanas, sua grande invejada e inimiga comercial Veneza, para fugir da crise, apelava para os portos lisboetas para comprar as especiarias que Manuel trazia da Índia, um vexame. A maré estava a favor dos portugueses, da África, recebia ouro e do Brasil grande quantidades do pau de tinta.

por André Mafra

[1]             Cita Michael Krondl em seu O sabor das Conquistas página 135.
[2]             O Brasil com sua enorme área continental e um grande população com mais de 150 milhões de habitantes ajudam a elevar  a posição no ranking.
[3]             Corsários são também piratas, mas que tinham o apoio de reinos inimigos.
[4]             Sendo uma forte referência de um período de prosperidade e autoestima do povo português, suas referências principalmente ao estilo Manuelino são de tempos em tempos revisitados como ocorreu anos depois no século XIX com o movimento chamado neo-manuelino.

Para saber mais…

O Descobrimento do Brasil
Conheça D. Manuel, o monarca que exalava pimenta
Chegada de Vasco da Gama em Calicute na Índia

 

 

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Andre Mafra

  Estudioso da área de culinária desde 2010, dedica-se a pesquisar e estudar sobre alimentação e especiarias. Realizou viagens aos… Continue lendo.

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