Publicado em 28/02/21

Saiba mais sobre Pero de Covilhã, aquele que encontrou o reino do Preste João e visitou a Terra das Especiarias antes de Gama

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Elaine de Sanceau o descreve como linguista de alma aventureira[1], um dos viajantes mais importantes do Ocidente. Sua trajetória é simplesmente incrível e caso eu pudesse voltar no tempo gostaria de ter tido uma extensa conversa com ele.

Pero de Covilhã é fruto do incrível período da regência de D. João II, monarca que entrou para história com o título de O Perfeito. Longe de ser um homem santo, o monarca que investiu numerosos esforços para permitir que Portugal chegasse à terra das especiarias, (feito ocorrido no reinado segundo de D. Manuel I) consolidou seu poder com vigor e violência, mas se dúvida alguma seus feitos mudaram a história do mundo.

Em sua jornada viageira e diplomática acompanhou seu pai D. Afonso V à França, foi espião em Castela alimentando a eterna desconfiança e investigação entre os reinos peninsulares, e também foi embaixador no Marrocos onde negociou os restos mortais do Infante D. Fernando em Fès[2] para retorno para Portugal. Sendo um homem experiente e de bom trato com o mundo muçulmano, foi encarregado de uma próxima missão junto de Afonso de Paiva onde levavam ordem de internar-se em África, partindo do Egito para recolher todas as informações que pudessem sobre as vias e caminhos do comércio do Oriente e Índia e claro, buscar o reino cristão do Preste João.

Da península para o Reino do Preste João e Índia

Pero da Covilhã (grafia de Elaine Sanceau) e Afonso de Paiva partiram de Barcelona para Nápoles e de lá para Rodes onde foram acolhidos pelos cavaleiros de São João e de despediram da última parcela do mundo familiar.  Atravessaram para Alexandria no Egito disfarçados de mercadores equipados com mel para vender, seguiram para o Cairo e lá para Adem no atual Yêmen onde os amigos se dividiram. Pero da Covilhã seguiu para a Índia – seguia as especiarias até sua origem – enquanto Afonso de Paiva dirigiu-se para a Etiópia em busca do Preste João, em data posterior encontrariam-se de volta  no Cairo. Nao se sabe sobre Afonso de Paiva em Etiópia, mas sabe-se que retornou ao Cairo onde morreu.

Pero da Covilhã  prosseguiu e visitou a terra das Especiarias, desembarcou em Cananor oeste indiano, o porto do gengibre e seguiu para Calecute que ano depois viria a ser visitado oficialmente por Vasco da Gama – estranha e faustosa cidade de casas de colmo (casas compostas por sótão) e homens semi-nus, umacidade de coqueiros a beira mar, de oiro e de jóias, de elefantes e de pimenta. Pero também visitou Goa, seguiu para Sofala (Moçambique), também para a ilha de Madasgascar.  Prosseguiu para Ormuz no mar do Golfo Pérsico e finalmente voltou a Adem e Cairo.

Dois judeus Rabi Abraão de Beja e Joseph de Lamego, enviados pelo Rei de Portugal encontraram Pero da Covilhã e informaram-no que ele já poderia voltar caso quisesse, mas se ainda não houvesse encontrado o reino de Preste João poderia ficar e buscá-lo sem esmorecer para coroar sua importante jornada de desbravamento territorial.

Segundo Elaine de Sanceau, Pero queria voltar as vertentes frescas da Serra da Estrela pois elas lhe pareciam mais atraentes do que os rochedos requeimados de Adem.  Mas ordens eram ordens e em 1494 após um árduo caminho o Marco Polo lusitano chegou à corte do Preste João onde ficou de vez.  Para muitos foi impedido de retornar, seria ele na verdade um prisioneiro, mas com honras de um grande convidado, acredita-se que circulava bem dentro da corte do Preste João e que recebia tratamento especial da rainha viúva Helena que apreciava suas histórias sobre Portugal. Neste ínterim D. João falece e Pero resolver ficar, casa-se com uma local abexin e passa a desfrutar das terras que recebeu vivendo com um fidalgo.

Em 1521 encontrou a embaixada portuguesa de D. Rodrigo  de Lima, dizem que chorou e confessou para o  após 30 anos em fazê-lo.  Pero nunca voltou para Portugal, por fim morreu na Abissínia.

Seu conhecimento foi fundamental para reforçar a D. João II  que a empreitada de seguir contornando a África até atingir a Índia era viável, que a lenda do Preste João estava desvendada e que podia-se enviar também, missionários para reforçar as posições cristãs na Abissínia (atual Etiópia), além das relevantes informações para que Vasco da Gama pudesse chegar até a Terra das Especiarias pouco anos depois em 1498.

por André Mafra

[1] Os trecho em itálico referem-se a trechos do excelente Em demanda do Preste João de Elaine Sanceau de 1939.

[2] A saga de D. Fernando está descrita no capítulo 7 chamado Os portugueses avançam sobre Marrocos do Sabores & Destinos.

 

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Andre Mafra

  Estudioso da área de culinária desde 2010, dedica-se a pesquisar e estudar sobre alimentação e especiarias. Realizou viagens aos… Continue lendo.

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